sexta-feira, 15 de maio de 2009

E você, viveria tudo novamente?


Bem, essa temática surgiu numa conversa de mesa de bar. Sabe aquele tipo de assunto em que você para e pensa: -putz, não é que isso é relevante mesmo!!!!Eis a questão...Quem ama a própria vida, cada dor, cada alegria, cada sentimento, cada fato, cada pedacinho de existência...quem ama essa vida ao ponto de querer vive-la infinitamente???? Um infinito onde não há mudança...onde tudo retorna! Ferrado isso, não?


"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"


O Eterno Retorno é um conceito não acabado em vida pelo próprio Nietzsche, trabalhado em vários de seus textos (No "Assim falou Zaratustra"; aforismo 341 do "A gaia ciência"; aforismo 56 do "Além do bem e do mal"; e trechos dos fragmentos póstumos, que podem ser encontrados no livro "Nietzsche" da coleção "Os Pensadores", da Abril Cultural). Ele mesmo considerava como seu pensamento mais profundo e amedrontador, que lhe veio à mente durante uma caminhada, ao contemplar uma formação rochosa.

Um dos aspectos do Eterno Retorno diz respeito aos ciclos repetitivos da vida: estamos sempre presos a um número limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente, e se repetirão no futuro.
O que é indispensável notar é que esta teoria, que parece insensata e totalmente inverossímil a muitos, não é uma forma de percepção do tempo: o Eterno Retorno não é um ciclo temporal que se repete indefinidamente ao longo da eternidade.

Quando no texto, acima transcrito, de A Gaia Ciência, o filósofo sugere a aparição do demônio portador da reveleção do ciclo inexorável de repetições, ele não afirmou que aquilo seria exatamente o Eterno Retorno. Nos textos de Nietzsche sobre a História, vemos que sua noção do Tempo não é cíclica.

Com o Eterno Retorno Nietzsche questiona da ordem das coisas. Indica um mundo não feito de pólos opostos e inconciliáveis, mas de faces complementares de uma mesma -- múltipla, mas única -- realidade. Logo, bem e mal, angústia e prazer, são instâncias complementares da realidade - instâncias que se alternam eternamente. Como a realidade não tem objetivo, ou finalidade (pois se tivesse já a teria alcançado), a alternância nunca finda. Ou seja, considerando-se o tempo infinito e as combinações de forças em conflito que formam cada instante finitas, em algum momento futuro tudo se repetirá infinitas vezes. Assim, vemos sempre os mesmos fatos retornarem indefinidamente.

Outras observações importantes a respeito do Eterno Retorno são suas relações com o Amor fati e a vontade de potência. Detenhamo-nos ligeiramente no Amor fati -- Amor ao destino.

O conceito do Eterno Retorno leva a uma indagação sobre a vida: amamos ou não amamos a vida? Se tudo retorna - o prazer, a dor, a angústia, a guerra, a paz, a grandeza, a pequenez -- se tudo torna, isto é um dom divino ou uma maldição? Amamos a vida a tal ponto de a querermos, mesmo que tivéssemos que vivê-la infinitas vezes sem fim? Sofrendo e gozando da mesma forma e com a mesma intensidade? Seríamos capazes de amar a vida que temos - a única vida que temos - a ponto de querer vivê-la tal e qual ela é, sem a menor alteração, infinitas vezes ao longo da eternidade? Temos tal amor ao nosso destino? - Eis a grande indagação que é o Eterno Retorno.

Ele é, portanto, uma das maiores indagações da filosofia: aquele que quer respondê-la deve posicionar-se além do bem e do mal - enxergar a vida como o todo único e múltiplo que ela é: e amá-la. E o principal: fazer bem feito e com alegria cada detalhe de cada mínimo ato, pois ele se repetirá para sempre.


Para quem quer conhecer um pouquinho mais acerca de Friedrich Nietzsche e de seus conceitos filosóficos...http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/textosnietzsche.html, http://www.mundodosfilosofos.com.br/nietzsche.htm

Fonte: Wikipedia, Além do bem e do mal, A gaia ciência.


P.S. Recomendo também a leitura de Ecce Homo, Humano Demasiado Humano e o Anticristo. Ahh, e se puder encontrar alguém bem esclarecido sobre o assunto também ajuda...No meu caso tive a sorte de ter um ótimo professor de filosofia na faculdade, que tornou essas indagações nietzschianas possíveis e viáveis. Vale muito a pena percorrer essas vias de questionamentos, principalmente em boa companhia, e se for um papo regado à Martínis então, nem se fala!!!Juliana quem o diga!!!!rs

E para algúns: ler apenas ''Quando Nietzsche chorou'' não resolve.

3 comentários:

Mary.Jane disse...

Nossa, muito massa teu Blog! Gostei mesmo, passarei a seguir!
Abraços!
Hangluiz!

Conde Vlad Drakuléa disse...

O tio Ninio sempre foi genial!!! E o Buckw também! Eu viveria tudo novamente, mas seria bom se pudéssemos ter mais tempo, a vida deveria ser dividida em dois tempos, a memorização do texto e a interpretação do mesmo... Não esqueçendo a cervejinha naturalmente! hoheheuehe, beijocas novas do conde :****

Anônimo disse...

HUEHDUEHDUED
Adorei o final do teu texto, já escrevi algo muito parecido no meu blog, sobre pessoas que acham que niilismo é achismo. Enfim, eu acredito em um eterno retorno do mesmo sobre um todo, em várias formas de vida, de certa forma pra mim, hoje, é claro que vivemos todos os mesmo.

Abraço moça.